Crônica
Nas aulas de leitura e produção textual, Rafael Medeiros Santos, 17 anos, aluno do 3º ano C, escreveu a crônica " Antes tarde do que nunca", sob a orientação da professora Tamara de Oliveira, na disciplina de Língua Portuguesa e Literatura.
Antes tarde do que nunca
Fico imaginando a quantidade de desculpas que esse livro teve de ouvir. Imagine devolver um livro à biblioteca com quarenta e dois anos de atraso! Imagino também as desculpas que o homem que alugou deu para não entregá-lo. “Entregarei o livro amanhã à biblioteca, hoje estou muito atrasado para o trabalho.” “Nossa! Me esqueci novamente que tenho que entregar o livro para a biblioteca, entregarei amanhã cedinho, sem falta.” “Certo, hoje realmente é impossível entregar o livro, não posso perder o jogo hoje, são as finais!”
Assumo que nem eu mesmo lembrava da existência desse livro nas estantes, não porque era desinteressante, mas porque assumi que o leitor havia roubado. Sim, também entendo que não deveria julgar o leitor, cada um têm seus problemas de leitura. Eu mesmo já tive de renovar vinte vezes o mesmo livro para o mesmo cliente. Não culpo também aqueles que têm um sentimento enorme por um livro. Quando lemos e compreendemos a mensagem e começamos a ter sintonia com cada linha, garantimos que ele fique bem conservado e até em uma parte privilegiada da estante, mas ficar com um livro desde mil novecentos e setenta e sete e devolver depois de quarenta e dois anos? Com certeza a sua devolução foi em razão de um divórcio.
De repente, talvez em um dia ensolarado ou em um final de semana qualquer, o leitor se lembra de um suposto livro que ele retirou da estante de uma suposta biblioteca em um suposto ano de mil novecentos e setenta e sete que talvez ele, supostamente, não havia devolvido. Creio que ao entregá-lo, ele tenha ficado arrependido, aliás, esteve durante anos com o livro, não tenho ideia do elo que havia se formado entre os dois. Se não foi esse o motivo do arrependimento, garanto que tenha sido a multa de mais de treze mil reais.